A linguagem, fenômeno tão banal quanto fundamental para a existência humana e para as relações sociais, guarda consigo o acesso a, virtualmente, todas as questões identificadas como pertencentes às ciências humanas, sociais e seus campos afins. Muito filosoficamente falando, podemos partir de uma premissa realista, materialista, empírica, de que as coisas são o que elas são, mas não podemos jamais perder de vista que, na prática, nós sempre agimos de acordo com os termos em que as idealizamos, descrevemos, representamos. Afinal, pode-se sempre argumentar que o único meio de tornar operacionais nossas visões e concepções de mundo, de torná-las produtivas, é convertendo-as em “palavras” – em “gestos”, “significados”, “valores” etc. As “palavras” antecedem e se confundem com as ações, e depois que elas se encerram, mantêm-nas na memória das pessoas, dos grupos, das instituições. Com a progressão de nossa pesquisa – originalmente proposta no interesse de constituição de um campo disciplinar para a Economia Criativa – notamos que a formulação de um glossário facilitaria a remissão e a formulação de relações entre conceitos e definições empregadas por vezes de forma tão naturalizada que nem se reconhecem mais como parte de um arsenal analítico e interpretativo explícita e implicitamente ligados a uma visão de mundo, a uma weltanshauung, a uma crença e aos interesses que os indivíduos e os grupos mantêm em relação a ela. Em termos de análise isto quer dizer que extrapolando o interesse sobre a Economia Criativa para a Economia em sentido disciplinar amplo, e observando-a como um sistema discursivo específico, podem-se isolar termos e verificar suas “trajetórias discursivas”, seus impactos históricos efetivos e suas eventuais distorções, perversões, inversões etc. O pensamento econômico – noção que por sua vez extrapola a nocão de “ciência econômica”, mas sem perder o rigor – lança mão de ordens, de classes, de categorias etc. que não se põem como relevantes porque eles se encontram naturalizados no discurso: nos conceitos, nas definições, nas fórmulas, nas constantes e nas variáveis. Passamos, assim, a listar termos que refletem não somente os posicionamentos metodológicos necessários para o estabelecimento de padrões e parâmetros de aferição da “criatividade” como uma componência específica no campo do pensamento econômico contemporâneo, mas também para a forma como o discurso econômico se estrutura em torno de uma evidência cada vez menos tangível e objetivável nos termos em que se estabelecem os princípios da ação econômica capitalista. Elaborar este glossário foi aos poucos se tornando um exercício fundamental para provocar a dissolução e articulação entre modos de pensamento em princípio tão radicalmente distintos que sua presença simultânea num ensaio qualquer pode imputar a pecha de uma argumentação contraditória. Desmontar, desconectar os termos de suas “celas discursivas” permite reduzi-las a um estado quase neutro, a ordem alfabética. Não que os termos percam sua vinculação a certos contextos de interesses, mas a listagem de termos permite pelo menos que as diferenças e nuances de um termo se evidenciem numa ou em outra abordagem. Infelizmente, é claro, não se tratava de elaborar um verdadeiro dicionário, trabalho que demandaria um tempo e esforço que não condizem com as condições e o interesse da pesquisa em desenvolvimento. Não tratava de fixar variações de termos e cotejamentos de definições apresentadas por estudiosos e por textos documentais. Por buscarmos a crítica e a participação na proposição de um modelo metodológico para a Economia Criativa, pareceu-nos que a síntese precisaria ser mais direta, aproximando não somente referências mas também imagens, metáforas, analogias, aproximações semânticas. Como resultado, passamos a obter não mais “verbetes”, no sentido estrito do termo, mas pequenos ensaios que exploram tais propriedades nos termos elencados. Esperamos que o glossário seja de utilidade para outros estudiosos e curiosos a respeito dos temas e questões envolvidos no processo de desenvolvimento do pensamento econômico, esperando também que as condições de pesquisa se estabilizem para que o trabalho mantenha sua previsão de desenvolvimento. Para acessar os verbetes do Glossário, acesse este link. |
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OBSERVATÓRIO DE ECONOMIA CRIATIVA NO ESO Seminário Metodológico Economia Criativa no ES publica em seu Observatório de Economia Criativa análises, comentários e informações sobre acontecimentos relevantes para difusão da agenda da Economia Criativa no Espírito Santo. Archives
Abril 2019
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