Desde o início do ano estamos (falo em nome deste nanoobservatório constituído no Seminário Metodológico Economia Criativa no Estado do ES) assistindo aos desdobramentos dos novos mandatos de Dilma Roussef e de Paulo Hartung, particularmente as pautas da Cultura e da Educação e, de forma mais ampla, a relação entre esses dois grandes processos sociais e os estímulos à inovação e ao desenvolvimento (cultural, social e econômico) do País, do Estado, dos Municípios e das Pessoas. É claro, não é possível pensar as pequenas partes de um grande fenômeno sem ao menos intuir algo a respeito do todo; e, assim como é possível (e desejável) compreender a cadeia de relações que faz a Economia afetar o comportamento da Cultura e da Educação, não deveria causar estranheza mesmo aos ouvidos mais ortodoxos que a Cultura e a Educação também se projetem sobre a Economia, de uma forma mais íntima, mais efetiva do que os modelos clássicos do pensamento econômico puderam – ou se permitiram – isolar.
A crítica desse presente na perspectiva que interessa ao Seminário em torno do qual se estabelece este posto de observação leva a ressaltar ao menos três momentos de um pensamento legitimamente econômico, preocupado com: a) o dimensionamento de valor dos bens e dos recursos necessários para a promoção do desenvolvimento em escala nacional, b) a possibilidade de participação da Universidade no desenvolvimento de processos produtivos, c) a compreensão da implicação de novos processos nas dialéticas de reconfiguração tanto da “cadeia produtiva” regular e sistemática quanto dos elementos mais singulares da criação que introduz ou aprimora formas de produção, e d) a afetação das inovações sobre as dinâmicas de consumo e sobre as estratégias de formação, concentração e aplicação de capital.
Assim, vejamos: para fazer um Estado, para mantê-lo forte, é preciso fortalecer as instituições que encarnam os poderes e as responsabilidades públicas. Um Estado demonstra ser forte pela exibição de símbolos que representam forças (bélicas, intelectuais, estéticas etc.). Um Estado que não é capaz de gerar símbolos legítimos, verdadeiramente representativos, pode ser considerado um Estado vazio, em termos institucionais? Um Estado vazio pode ser considerado um Estado sem vontade própria – inexpressivo, por mais que possa mostrar-se poderoso? E a pergunta que não poderia querer calar: como preencher – preencher com o quê – as instituições que encarnam a res publica, como revitalizá-las, como empoderá-las, como restituir ou instituir suas efetividades?
A Universidade, uma das instituições que simbolizam o esforço do Estado para garantir e aprimorar a disponibilidade de conhecimento especializado, atravessou uma sucessão de movimentos revolucionários que modificaram sensivelmente a constituição das sociedades. A cada revolução (política, técnica, cultural etc.) ela ganha novos contornos, ressignificando-se em tensão com suas identidades já formadas. Curiosamente, no momento em que o acesso à Educação praticamente se universaliza e que as sociedades acedem a um regime econômico baseado na lógica da informação, a Universidade parece atacada por uma doença encomendada para minar-lhe as forças, as potências que se podem projetar sobre a Cultura, a Sociedade e a Economia. A Universidade, a intelectualização do pensamento são hoje reféns do esvaziamento instituconal do Estado, que não podendo privar-se da disponibilidade de inteligência age sistematicamente para miná-la e mantê-la no limite de um horizonte de interesses muito específicos, os interesses pragmáticos.
Num contexto de análise e crítica, vivemos um Estado que ainda não se recompôs, se é que em algum momento da História Nacional se possa afirmar a sua existência plena – o Brasil sempre foi um país em obras, um país em construção. Precisamos desesperadamente do desenvolvimento e o invocamos como solução para reequacionar de forma positiva a constituição do sistema econômico, mas quais são as condições básicas para a promoção do desenvolvimento? Acaso não são exatamente a eficiência na mobilização ideológica, a capacidade de atrair e orientar os investimentos dos setores da sociedade? Mas onde se encontra o fundamento para um discurso capaz de sensibilizar e persuadir as pessoas, os cidadãos? Não há, porque não há espaço para o discurso, para a proposição e a defesa de ideias – as ideias talvez nunca tenham estado tão fora de moda.
Vivemos um mundo político em que só há espaço para homens e mulheres práticos, os chamados “homens de ação”. Mas, se é verdade que toda ação manifesta ao menos uma intenção, quais são as intenções que se podem associar a um Estado institucionalmente esvaziado? O que queremos do Estado, eficiência empresarial? Sim, queremos eficiência – mas não como um fim e sim como um meio. Pensar o Estado como um negócio reduz o que se pode esperar dele – e certamente se deverá esperar dele algo mais que a manutenção de uma praça comercial. Precisamos de “pessoas de ação” para conduzir a vida política? Sim, precisamos de gente que gente que não se imobilize em pântanos retóricos e cálculos infinitos. Mas como estabelecer uma “língua comum” sem um consenso entre os falantes (e quem são os falantes?), como alcançar consensos sem a definição de “denominadores comuns”, referências comuns?
O desenvolvimento pressupõe uma unidade e uma potencialidade. O Estado não as constitui efetivamente – antes as antagoniza. O desenvolvimento promove modificações nas formas e nos processos produtivos, tendendo a provocar uma redistribuição dos percentuais de acesso da população a bens e serviços – mas o consumo pode assumir o controle sobre o acesso em sua forma canônica, invisível, viciando e tornando viciosos seus fluxos e dinâmicas. Esta é apenas uma das pontas do iceberg negativo da conjuntura histórica do País, como um todo, e do Estado do Espírito Santo, em particular. A questão que resta, realmente soberana, é: se o desenvolvimento não pode ser promovido diretamente pelo Estado, como acessá-lo, como provocá-lo a reencontrar suas identidades institucionais e suas agendas verdadeiramente prioritárias?
A crítica desse presente na perspectiva que interessa ao Seminário em torno do qual se estabelece este posto de observação leva a ressaltar ao menos três momentos de um pensamento legitimamente econômico, preocupado com: a) o dimensionamento de valor dos bens e dos recursos necessários para a promoção do desenvolvimento em escala nacional, b) a possibilidade de participação da Universidade no desenvolvimento de processos produtivos, c) a compreensão da implicação de novos processos nas dialéticas de reconfiguração tanto da “cadeia produtiva” regular e sistemática quanto dos elementos mais singulares da criação que introduz ou aprimora formas de produção, e d) a afetação das inovações sobre as dinâmicas de consumo e sobre as estratégias de formação, concentração e aplicação de capital.
Assim, vejamos: para fazer um Estado, para mantê-lo forte, é preciso fortalecer as instituições que encarnam os poderes e as responsabilidades públicas. Um Estado demonstra ser forte pela exibição de símbolos que representam forças (bélicas, intelectuais, estéticas etc.). Um Estado que não é capaz de gerar símbolos legítimos, verdadeiramente representativos, pode ser considerado um Estado vazio, em termos institucionais? Um Estado vazio pode ser considerado um Estado sem vontade própria – inexpressivo, por mais que possa mostrar-se poderoso? E a pergunta que não poderia querer calar: como preencher – preencher com o quê – as instituições que encarnam a res publica, como revitalizá-las, como empoderá-las, como restituir ou instituir suas efetividades?
A Universidade, uma das instituições que simbolizam o esforço do Estado para garantir e aprimorar a disponibilidade de conhecimento especializado, atravessou uma sucessão de movimentos revolucionários que modificaram sensivelmente a constituição das sociedades. A cada revolução (política, técnica, cultural etc.) ela ganha novos contornos, ressignificando-se em tensão com suas identidades já formadas. Curiosamente, no momento em que o acesso à Educação praticamente se universaliza e que as sociedades acedem a um regime econômico baseado na lógica da informação, a Universidade parece atacada por uma doença encomendada para minar-lhe as forças, as potências que se podem projetar sobre a Cultura, a Sociedade e a Economia. A Universidade, a intelectualização do pensamento são hoje reféns do esvaziamento instituconal do Estado, que não podendo privar-se da disponibilidade de inteligência age sistematicamente para miná-la e mantê-la no limite de um horizonte de interesses muito específicos, os interesses pragmáticos.
Num contexto de análise e crítica, vivemos um Estado que ainda não se recompôs, se é que em algum momento da História Nacional se possa afirmar a sua existência plena – o Brasil sempre foi um país em obras, um país em construção. Precisamos desesperadamente do desenvolvimento e o invocamos como solução para reequacionar de forma positiva a constituição do sistema econômico, mas quais são as condições básicas para a promoção do desenvolvimento? Acaso não são exatamente a eficiência na mobilização ideológica, a capacidade de atrair e orientar os investimentos dos setores da sociedade? Mas onde se encontra o fundamento para um discurso capaz de sensibilizar e persuadir as pessoas, os cidadãos? Não há, porque não há espaço para o discurso, para a proposição e a defesa de ideias – as ideias talvez nunca tenham estado tão fora de moda.
Vivemos um mundo político em que só há espaço para homens e mulheres práticos, os chamados “homens de ação”. Mas, se é verdade que toda ação manifesta ao menos uma intenção, quais são as intenções que se podem associar a um Estado institucionalmente esvaziado? O que queremos do Estado, eficiência empresarial? Sim, queremos eficiência – mas não como um fim e sim como um meio. Pensar o Estado como um negócio reduz o que se pode esperar dele – e certamente se deverá esperar dele algo mais que a manutenção de uma praça comercial. Precisamos de “pessoas de ação” para conduzir a vida política? Sim, precisamos de gente que gente que não se imobilize em pântanos retóricos e cálculos infinitos. Mas como estabelecer uma “língua comum” sem um consenso entre os falantes (e quem são os falantes?), como alcançar consensos sem a definição de “denominadores comuns”, referências comuns?
O desenvolvimento pressupõe uma unidade e uma potencialidade. O Estado não as constitui efetivamente – antes as antagoniza. O desenvolvimento promove modificações nas formas e nos processos produtivos, tendendo a provocar uma redistribuição dos percentuais de acesso da população a bens e serviços – mas o consumo pode assumir o controle sobre o acesso em sua forma canônica, invisível, viciando e tornando viciosos seus fluxos e dinâmicas. Esta é apenas uma das pontas do iceberg negativo da conjuntura histórica do País, como um todo, e do Estado do Espírito Santo, em particular. A questão que resta, realmente soberana, é: se o desenvolvimento não pode ser promovido diretamente pelo Estado, como acessá-lo, como provocá-lo a reencontrar suas identidades institucionais e suas agendas verdadeiramente prioritárias?