POR ORLANDOLOPES
Seminário Metodológico Economia Criativa no ES
Uma política é uma política é uma política, até que digam o contrário. Para quem é refém do Estado, esse é um mantra que nunca pode ser esquecido. A política anda tão velha, tão arcaica, tão baseada nas forças brutas e no maquiavelismo das casas-grandes que tanto dependem das senzalas, que ainda vai nos fazer voltar ao Brasil-Colônia. Não há discurso, não há debate, não há representação de uma cena política no Espírito Santo. Só existem os bastidores, só existem as filiações, só existem as certezas. Todos estão certos, todos se sabem certos, ainda que só alguns tenham canetas e carimbos, e o tempo continue a ser aquele leão que ruge, ou foge.
Ando fechado (ou aberto, sei lá) para balanços. Passei um ano inteiro levantando fontes e questões, revisando termos, aprofundando conceitos, me preparando... Me preparando para o quê, exatamente? Agora que a pesquisa começa a se avolumar, que ganha contornos mais específicos e encontra situações de campo que fazem emergir de forma pública questões até aqui minimizadas, ignoradas, a sensação é de um vazio, como aquele que se forma nas ondas pouco antes de elas estourarem na arrebentação. Por que é que um poeta, professor de Literatura, pai-de-família, maratimba, haveria de se meter com essas questões tão distantes da política cultural e da cultura organizacional (que alcança os modos de se pensar o próprio Estado, a Sociedade, a Economia)?
Tem gente muito mais disposta tocando esses bondes todos. O movimento Ocupa Secult segue com suas táticas e estratégias, o Governo segue com suas contraestratégias. (Ou o inverso; enfim.) De parte a parte, contatos, consensos, dissensos, alianças, divergências. Pequenas pontas que podem ocultar imensos icebergs e túneis subterrâneos, de uma água que vem se tornando amarela, ferruginosa. A política no Brasil é pantanosa, convém sempre firmar o pé antes de se dar qualquer passo. É nessa política de atrasos que vamos buscando o desenvolvimento. Tomara que o encontremos, tomara que permitam que também façamos parte dele... Ou seremos desterrados mais uma vez?
Eu acompanhei boa parte da trajetória política de Paulo Hartung, a grande simpatia que sua participação no movimento estudantil despertava em quem militava nesse ambiente de iniciação política nos anos 80 e 90. Trabalhei em suas gestões de forma pontual, e também na gestão Casagrande. Sempre me impressionou a falta de atenção à Secretaria de Cultura, cada vez mais um órgão apaziguador das insatisfações populares e civis do que um proponente de questões específicas e de demandas legítimas. O que me impressiona mais é não haver um discurso, uma objetividade, uma finalidade. A Cultura não tem uma finalidade no conjunto dos interesses de Estado. O Estado não se distingue do Governo. O Governo desconsidera as representações civis.
Há um esvaziamento institucional. O MinC parece estar tentando retomar seu papel propositivo, mas o Estado do ES é uma incógnita, uma ausência. Não se trata de pedir que o Governador esteja o tempo todo na televisão ou no jornal fazendo declarações. Mas é preciso que se saiba qual é o pensamento que unifica as ações de Governo, que lhe conferem uma identidade, um caráter. Qual é a cara desta gestão do Governo de Paulo Hartung, como a Cultura a acomoda, como ela influencia na vida social e econômica de Estado?
Melhor deixar essas questões para quem as entende, e se dispõe a peitá-las. Eu, que sou só um professor de Literatura que se invocou com a Economia Criativa, devo mais é cuidar de entender não o que os outros deveriam saber para lidar com o pensamento econômico aplicado à política cultural, mas sim como esse pensamento pode ser acionado no limite das minhas próprias “condições de produção” (a saber, a Universidade, o ensino básico, os círculos literários etc.) e das conexões que elas podem ter com outros ambientes sociais (e econômicos). Uma hora, espero, alguém mais aparece para conversar, e vamos ter muito o que falar.
30/05/2015
Seminário Metodológico Economia Criativa no ES
Uma política é uma política é uma política, até que digam o contrário. Para quem é refém do Estado, esse é um mantra que nunca pode ser esquecido. A política anda tão velha, tão arcaica, tão baseada nas forças brutas e no maquiavelismo das casas-grandes que tanto dependem das senzalas, que ainda vai nos fazer voltar ao Brasil-Colônia. Não há discurso, não há debate, não há representação de uma cena política no Espírito Santo. Só existem os bastidores, só existem as filiações, só existem as certezas. Todos estão certos, todos se sabem certos, ainda que só alguns tenham canetas e carimbos, e o tempo continue a ser aquele leão que ruge, ou foge.
Ando fechado (ou aberto, sei lá) para balanços. Passei um ano inteiro levantando fontes e questões, revisando termos, aprofundando conceitos, me preparando... Me preparando para o quê, exatamente? Agora que a pesquisa começa a se avolumar, que ganha contornos mais específicos e encontra situações de campo que fazem emergir de forma pública questões até aqui minimizadas, ignoradas, a sensação é de um vazio, como aquele que se forma nas ondas pouco antes de elas estourarem na arrebentação. Por que é que um poeta, professor de Literatura, pai-de-família, maratimba, haveria de se meter com essas questões tão distantes da política cultural e da cultura organizacional (que alcança os modos de se pensar o próprio Estado, a Sociedade, a Economia)?
Tem gente muito mais disposta tocando esses bondes todos. O movimento Ocupa Secult segue com suas táticas e estratégias, o Governo segue com suas contraestratégias. (Ou o inverso; enfim.) De parte a parte, contatos, consensos, dissensos, alianças, divergências. Pequenas pontas que podem ocultar imensos icebergs e túneis subterrâneos, de uma água que vem se tornando amarela, ferruginosa. A política no Brasil é pantanosa, convém sempre firmar o pé antes de se dar qualquer passo. É nessa política de atrasos que vamos buscando o desenvolvimento. Tomara que o encontremos, tomara que permitam que também façamos parte dele... Ou seremos desterrados mais uma vez?
Eu acompanhei boa parte da trajetória política de Paulo Hartung, a grande simpatia que sua participação no movimento estudantil despertava em quem militava nesse ambiente de iniciação política nos anos 80 e 90. Trabalhei em suas gestões de forma pontual, e também na gestão Casagrande. Sempre me impressionou a falta de atenção à Secretaria de Cultura, cada vez mais um órgão apaziguador das insatisfações populares e civis do que um proponente de questões específicas e de demandas legítimas. O que me impressiona mais é não haver um discurso, uma objetividade, uma finalidade. A Cultura não tem uma finalidade no conjunto dos interesses de Estado. O Estado não se distingue do Governo. O Governo desconsidera as representações civis.
Há um esvaziamento institucional. O MinC parece estar tentando retomar seu papel propositivo, mas o Estado do ES é uma incógnita, uma ausência. Não se trata de pedir que o Governador esteja o tempo todo na televisão ou no jornal fazendo declarações. Mas é preciso que se saiba qual é o pensamento que unifica as ações de Governo, que lhe conferem uma identidade, um caráter. Qual é a cara desta gestão do Governo de Paulo Hartung, como a Cultura a acomoda, como ela influencia na vida social e econômica de Estado?
Melhor deixar essas questões para quem as entende, e se dispõe a peitá-las. Eu, que sou só um professor de Literatura que se invocou com a Economia Criativa, devo mais é cuidar de entender não o que os outros deveriam saber para lidar com o pensamento econômico aplicado à política cultural, mas sim como esse pensamento pode ser acionado no limite das minhas próprias “condições de produção” (a saber, a Universidade, o ensino básico, os círculos literários etc.) e das conexões que elas podem ter com outros ambientes sociais (e econômicos). Uma hora, espero, alguém mais aparece para conversar, e vamos ter muito o que falar.
30/05/2015